por: Ricardo Oliveira
A classe média mudou, não se
interessa mais por carnês de geladeiras e sim por carnês de televisores finos,
mais fino que folha de papel. A classe
média cresceu, não é mais a criança que se satisfaz com um carrinho qualquer,
ela quer aquele sedan que alugou na viagem a Miami. Ela já acha que o Guarujá
virou muito povão, acha que o top agora é Maresias. A classe média trocou a ida
à rodoviária pelo pulinho ao aeroporto. Ela acha que dar gorjeta no exterior é
bobeira, mas acha ruim quando é mal atendido pelo taxista em Nova York. Paga
excesso de bagagem de tanto creme da Victoria Secret’s que trouxe, diz que é
pra revender para as amigas do pilates. Acha que assistir um jornal e ler uma revista
semanal é o suficiente para ficar informado, e com isso da palpite em tudo e em
nada ao mesmo tempo. Já não lembra em quem votou, mas sabe que não foi naquele
partido de estrela vermelha, acha que tem algo a ver com comunismo. As crianças da classe média também mudaram já
que brincar na rua ficou muito perigoso depois que a favela chegou tão perto,
acha então o máximo jogar bola no campo do condomínio entre as torres de
apartamentos. Acham também que se não passar na universidade pública sem
cursinho normal, afinal não é nenhum nerd. A classe média mede o nível de
conforto pelo número de carros na garagem, e já nem faz mais a conta para ver
se compensa fazer uma academia tão longe. Sim, a classe média mudou, mudou
tanto que já não acha que seja classe média mais. Mas se a classe média deixar
de ser a classe média... quem será?