segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A chama.

por: Ricardo Oliveira

O bar estava lotado, era uma sexta feira e a cidade fervilhava de vida. Eles haviam tido de esperar quarenta minutos por uma mísera mesa vazia, e isso a havia irritado. Porém, ele sabia como lidar com essas pequenas irritações momentâneas dela. Com ambos devidamente sentados e cervejas geladas sobre a mesa, veio o silêncio. Depois de um tempo o silêncio se tornou o verdadeiro regente da relação. Não por falta de amor, mas sim pela falta da renovação do mesmo. Aquilo que, antes era o quente da coisa, esfriou. O que era o diferente se tornou banal. No entanto, chega de adendos, nosso casal estava lá, sentado na mesa. Apenas os dois em silêncio, fitando os copos de cerveja. Quando alguém quebrou o silêncio, foi ela.
- E ai?
-E ai o que? – Ele respondeu.
-Vai ficar ai só calado?
-E tem algo a ser dito?
-Grosso!

E assim ficaram calados por mais algum tempo, o bar continuava cheio, mesas se esvaziavam e rapidamente outras pessoas as ocupavam.  O som dos copos batendo uns contra os outros conforme os garçons passavam, os fazia lembrar que o local estava vivo! O som das conversas se entrelaçando sobre suas cabeças naquela noite quente de verão, novamente os lembrava de que aquele lugar estava de fato mais ativo que o relacionamento deles.
-Não sei como levar isso mais adiante. – Ela disse.
-Concordo. Quandofoi que tudo mudou? – ele respondeu com indiferença. 
-Eu achei a gravação. – E esta foi a primeira vez que ela o olhou nos olhos. Seus olhos verdes o fitavam sem misericórdia.
-Eu sei, fui eu que coloquei o cd na mesa. Eu queria que você ouvisse.
-Você é um covarde! Não teve coragem nem para me contar pessoalmente!
-Não grite! Quer me xingar? Pode me xingar a vontade, mas as outras pessoas não tem nada a ver com isso!
-Vamos para casa, é lá que temos que conversar.
Então pagaram a conta e deixaram o bar, e junto com o bar deixaram para trás as máscaras que ainda restavam, ou parte delas. Enquanto ele dirigia pela cidade ela apenas olhava pela janela, sempre que passava por um poste, a luz iluminava seus cabelos loiros e seu rosto sem expressão alguma.  Quando finalmente chegaram ao apartamento, ele jogou as chaves na mesa e ela se sentou no sofá. Então ele de pé na frente dela, disse:
-Diga, derrame sua raiva.
-Como você pode?
-Pude da mesma forma que você pode. Sem prazer, sem alegria, e sem amor.
-Você é um cachorro, como pode me falar essas coisas com tanta naturalidade? É assim que você acaba tudo? – Ela berrou quase chorando– Nisso ela já estava de pé na frente dele, lhe deu um tapa. Ele pegou em seu braço com força e gritou de volta.
-Se sou um cachorro isso faz de você uma cadela! Você que sempre mostrava ser a santa, mal sabia que você era a própria ninfeta encarnada! Sim! Não me venha com sermões, sei quem é o outro. Logo ele? Tinha que ser ele não é? Você o escolheu de propósito não foi?
-Sim! Eu o escolhi de propósito! Não podia ser nenhum outro. E quer saber? Foi o melhor sexo da minha vida. – Enquanto ela proferia essas palavras ele não se agüentava de raiva, ele levantou sua mão por um estante e nisso ela complementou: - Vai bater? Então me bate! Não é isso que você quer? Me punir?!
-Não... – houve uma pausa. - não quero te punir, quero fazer isso.
Ele então a beijou e agarrou o outro braço dela com ainda mais força e a puxou. Enquanto o beijo ainda acontecia, ela se soltou e agarrou o cabelo dele com uma mão, enquanto a outra puxava sua camisa. Ela em seguida abriu sua camisa, e começou a arranha-lo com ímpeto. Ele a jogou no sofá e deitou em cima dela. Uma mão passeava pela coxa dela enquanto erguia o vestido e a outra se afogava dentre os cabelos macios dela. Foi lá mesmo, na sala, com apenas a luz dos abajures iluminando os dois amantes. Somente a lua que entrava pela janela aberta como testemunha, e lá que eles transaram.
-Desculpa pelo tapa.
-Não foi nada, você já me bateu mais forte. Agora me diga, aquele foi mesmo o melhor sexo da sua vida?
-Não, esse foi o melhor sexo da minha vida. E a gravação? Gostou?
-Não, ela não era você.
-Deveríamos convidar os dois para jantar.
-Sim, deveríamos. Isso se eles ainda continuarem casados.
-Você acha que eles acharam a gravação, e as fotos?
-Talvez, depois ligo pra ele.
As vezes jogar lenha não é o bastante, algumas vezes é necessário gasolina para que a pequena chama volte a queimar como antes.


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