quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Três dias para a eternidade.


Por: Ricardo Oliveira
Edição: Beatriz Marques Oliveira

Então é isso? Eu aqui parado olhando pros dois, ela não sabendo se olhava pra mim ou pro sujeito, e esse cara que eu nem sei quem é olhando pra ela com esse sorriso besta. Porque eu tive que vir na casa dela mesmo? A é lembrei!
Transamos ontem e ela nem ligou ainda, será que eu devo ligar? Não seria dar uma de desesperado. Mas calma ai, eu to desesperado porra! Meses idolatrando ela, e essa foi a primeira brecha que ela me deu, ah eu tenho que ligar! Eu vou ligar! Só falta eu achar o celular. Mas cadê aquele filho da puta? Ah achei, ah que merda sem bateria, o inferno, agora tenho que achar o carregador. E foi isso depois de 2 horas para achar, carregar, ligar, comprar crédito, colocar o código de novo porque eu li errado, esperar chegar os créditos, e finalmente poder ligar, descubro que ninguém atende. Ah então vou mandar uma mensagem, será que eu coloco uma carinha feliz no final? Não, muito ridículo. Bom acho que vou terminar aquela página e tomar banho. Mas, e se... e se ela ligar? Melhor não tomar banho.
Segundo dia e nada, será que estão chegando minhas mensagens? Acho que vou testar, “Se você receber isso venha na minha casa e me traga cerveja” , agora é esperar. Acho melhor eu ligar “Alo, Roberto? Você recebeu minha mensagem? Se recebeu porque não veio então o desgraçado? Ocupado? Você nunca ta ocupado! Ah enfim ao menos você recebeu. Tá tchau.” Acho que vou tentar ligar pra ela de novo. Ah não acredito que ela não atende. Não é possível, não é possível! Ela não quer mais nada, só pode ser isso. Ela deu pra mim porque era uma vadia isso sim! É vadia mesmo sempre foi! Ah o que eu to falando? Ela não é uma vadia, nunca foi. Ela é quem eu sempre quis, meu deus então porque ela não atende a porra do telefone?! Ahhhhhhh! Cadê aquela garrafa de vodka heim?
Terceiro dia e minhas costas doem mais que meu coração. Acho que deitado aqui no chão da sala eu posso pensar. E como eu vou pensar com essa ressaca? Melhor eu tomar um banho. Agora tenho que bolar um plano. Se bem que eu deveria é bolar outra coisa. Não, depois, agora tenho que decidir o que fazer. Melhor manter tudo simples, vou na casa dela, falo pra ela tudo o que eu sinto, tomo ela em meus braços e vamos para a cama de novo. E isso é simples?
Ta então ainda estamos os três aqui, o silêncio está me matando, melhor eu falar algo, “Então.. cara quem é você?”, “Eu?” respondeu ele com um tom meio besta, “Sim você.” “Meu nome é César, prazer”. Ele me estendeu a mão para cumprimentar, só respondi o gesto por respeito. “Certo esse é o seu nome, mas quem é você?” “Ah eu sou o namorado dela”. Pronto agora eu podia finalmente pular do penhasco. “Na-na-namorado?” “Sim”, ela respondeu, “Meu namorado”. Certo, agora meu plano acaba de falhar por completo, está na hora de improvisar. “Bom então, eu vim aqui porque eu encontrei sua amiga na rua, aquela ruiva ela me pediu pra te dar um recado” “recado? Que recado?” “Ela pediu pra você encontrar ela num lugar aí” “Que lugar?” “Me da uma folha que eu te escrevo o endereço”. Óbvio que não havia lugar nenhum então eu escrevi o mais rápido e legível que pude, “Não estou entendendo nada, caso queira me explicar algo, vou estar no quiosque o dia todo...”. Me despedi e fui para a praça.
“Alo Roberto? Sou eu. Passa aqui e me pega na praça vamos pro quiosque. Não discuta, eu te pago umas três cervejas”. Com ele a caminho eu tentava colocar todos os fatos em uma ordem lógica mas eu não conseguia, simplesmente não conseguia. Tava tudo uma merda. “Demoro heim, puta que pariu.” “Cara até hoje eu me pergunto porque você não tem um carro, e outra eu tava dormindo” “você sabe o por que eu não tenho um carro, vamos logo pro quiosque” “E já ta aberto aquilo?” “se não estiver aberto a gente arromba cacete!” Pra nossa sorte estava aberto, ao menos isso. “E ai vai me explicar porque me fez vir pra cá tão cedo?” “Eu fui na casa dela” “Porra cara porque?” “Como assim porque? Fazem três dias que ela não da sinal de vida, fazem três dias que a única coisa que eu tenho na minha cabeça ela, cara eu amo ela!” “Tudo isso por causa de uma foda?” “Não caralho, não é por causa de uma foda, é por causa dela!”. Nessa altura eu já tinha pago as três cervejas dele, e eu não tinha ainda nem acabado minha água de coco, sim água de coco, dizem que ajuda na ressaca.
“Olha cara eu queria ficar aqui pra você continuar me pagando cerveja, e te ajudando nessa dor de corno, mas eu tenho que ir no correio.” “Puta merda Roberto, eu aqui com meu coração despedaçado em cima da mesa e você tem que ir no correio?!” “É po, eu tenho que mandar essas tirinhas ainda hoje” “cara porque você não usa e-mail?” “Meu computador ta com vírus” “E como pegou vírus?” “Tentei baixar um pornô, mas deu merda. E aliás no correio tem aquela gostosa lá, qual o nome dela mesmo?” “Não sei, eu não costumo ir no correio muito menos decoro os nome de quem trabalha lá” “Enfim tenho que ir. Ah mas relaxa que você não vai ficar muito tempo sozinho não” “O que?”. Nisso Roberto virou meu rosto, eu pude ver ela chegando cada vez mais perto.
“Oi, posso sentar?” “Claro, vejo que entendeu meu recado” “É eu entendi, esse coco ai está gelado?” “Ta sim” “Vou pedir um também” “Ah você também ta de ressaca?” “Ham?” “Nada, então sobre o que você quer falar?” “Não sei, o que quer perguntar?” “Quem era aquele cara eu já sei, mas acho que eu não entendi direito a parte do namorado” “Então a gente começou a namorar a dois meses atrás um pouco antes de conhecer você” “Então porque nunca fiquei sabendo dele?” “Porque dois dias depois da gente começar a namorar, o pai dele ficou muito doente, lá no interior, aí ele teve que cuidar dele” “Mas mesmo assim, porque você nunca falou dele?” “Porque eu não achei que precisaria” “Você sabia que eu estava te amando, sabia que eu faria tudo por você, e mesmo me escondeu isso?” “Veja bem, eu estava com medo, não sabia o que fazer, você não queria que eu terminasse com ele por telefone né? O coitado já tava abalado por causa do pai, não queria que eu ferrasse tudo ainda mais né?” “É você estava certa, mas porque você não atendeu meus telefonemas?” “o pai dele faleceu há quatro dias, depois do velório ele veio pra cá” “E qual foi mesmo o motivo mesmo pra ter me evitado?” “Eu estava esperando, estava tentando tomar coragem porra!” “Coragem pra quê?!” “Pra terminar com ele e poder ir te ver...”
Se antes eu já estava confuso agora eu já desisti de tentar entender as coisas. “E sabe o que eu estava fazendo quando você chegou lá?” “Não, o que?” “Eu tava quase desistindo de terminar com ele, estava com tanto medo” “Medo de que? Como você é boba né? Deve ser por isso que eu me apaixonei por você”, ela sorriu, ao menos eu fiz ela dar uma risada. Me senti bem por isso. Ela parou respirou fundo e voltou a falar “mas sabe, de alguma forma aquela sua desculpa besta me ajudou. Depois daquele dia que fizemos amor, você não saia da minha cabeça. Se eu tinha alguma dúvida quanto ao o que eu sentia por você, essa dúvida foi embora quando estávamos nús no chão da sua sala fumando um cigarro e rindo” “é eu me lembro, me lembro de como você ria das minhas piadas toscas, e de como você lia meus poemas em voz alta. É eu me lembro” “enfim eu terminei, ele chorou, nos despedimos e estou aqui” “Bom já que estamos aqui...”
Me levantei da cadeira, tirei meus óculos escuros e os coloquei em cima da mesa. Peguei os óculos dela os coloquei junto aos meus. Peguei na mão dela, e fiz com que levantasse. Passei meu braço por trás dela e a trouxe junto ao meu corpo, bem ali no meio do quiosque. E a beijei, um beijo como nunca tinha dado. Ah, ela não vai esquecer desse beijo tão cedo. “Sabe, acho que devemos ir pro meu apartamento” “E você não tem medo que eu fique três dias sem te ver de novo?” “Por hoje já basta de medo. Só quero você!”

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