quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tudo como é.


                        Tudo como é.


por: Ricardo Oliveira
Edição: Beatriz Marques Oliveira

Eu havia viajado. Sai de casa, passei horas dentro de um avião, apenas para estar lá. Não era muito bem onde eu tinha planejado, afinal, como eu planejaria estar na casa de uma pessoa que eu mal conversava na época da escola? Ainda mais devido a um convite que chegara em minhas mãos misteriosamente.
De qualquer modo, eu estava lá, revendo pessoas, a maioria delas eu nem sentia assim tanta vontade de rever, não porque eu não gostasse delas, mas porque eu simplesmente não me importava. Entretanto, é claro que havia aquelas pessoas que eu gostava de rever, elas me  lembravam que a época de escola não havia sido tão ruim assim. Dentre todos os outros, importantes ou não, ELA estava lá, me fazendo sentir que ter aceito o convite para o churrasco fora uma boa escolha. Não éramos c0mpletos desconhecidos, vez ou outra nos falávamos.
Eu a observava de longe, deslumbrante sentada naquela cadeira de metal. Sim ela estava com as pernas cruzadas, uma das mãos segurava um copo pequeno de cerveja, enquanto a outra repousava sobre a perna. Usava um shortinho jeans e uma blusinha solta, que de vez em quando mostrava a alça do seu sutiã que era preto, seus cabelos se escorriam sobre o ombro esquerdo. Assim estava ela, ao lado do seu namorado. Um rapaz alto, que eu não tinha certeza se era loiro ou castanho, certamente já os vira juntos ano passado, mas não tinha muita certeza.
O churrasco corria bem. Todos conversavam entre si, sobre tudo e todos. E eu, obviamente, não conseguia desviar meu olhar daquele casal. Ficava me perguntando se eu sabia algo sobre ele, se ela já havia me dito alguma coisa, quando foi que eles começaram a namorar, ou até mesmo o nome dele, mas nada vinha na minha cabeça. Entre uma pergunta e outra, em minha mente eu me culpava, “será que eu fiz algo de errado?”, “será que eu deixei alguma coisa passar?”. A única resposta que encontrava é que achava que ficaríamos juntos algum dia. Tudo bem, eu fiz algumas bobagens no passado, mas eu achava que havia encontrado alguma forma de pedir uma segunda chance. Bem, parecia que não havia segundas chances para mim.
Quando percebia que meu copo estava vazio, eu me levantava e ia até a cozinha pegar mais cerveja, em uma dessas pequenas viagens finalmente esbarrei nela. Foi meio estranho a princípio, mas logo começamos a conversar, ali mesmo, em pé, diante daquela geladeira branca. Uma conversa sobre alguma coisa bem sem graça, mas para mim qualquer coisa que ela dizia valia a pena, apenas para ouvir sua voz e ver seu sorriso escondido entre uma frase e outra. Em algum momento a conversa parou e ficamos nos encarando, naquele momento me lembrei dos e-mails e das conversas por telefone enquanto eu ainda estava do outro lado do mundo, e das promessas de  esperar um pelo o outro até quando desse. No fundo eu sempre soube que chegaria a hora de alguém desistir, e chegou. Enquanto a encarava, vi sobre seu ombro que seu namorado também nos encarava, então finalmente perguntei:
E quanto a ele? Heim?
Ele quem? Ela respondeu.
O rapaz lá fora, seu namorado.
Ah sim. O que tem ele?
Ah não sei. Você o ama?
Ela abaixou a cabeça por alguns segundos, e logo olhou novamente pra mim, voltando a falar:
Acredito que sim. Tivemos algumas brigas no passado, mas voltamos agora.
Hmm e ele? Ele te ama?
Também acredito que sim.
Então acho que vai ficar tudo bem. disse isso esboçando um sorriso.

Enquanto eu saía da cozinha ela me puxou pelo braço e disse:
Você sabe o quanto eu te esperei né?
Sim eu sei, assim como eu também te esperei. Na verdade ainda vou te esperar, não me pergunte o porquê, pois eu não sei.
Mas é que se passaram tantos meses e...
Sim eu sei, você tem razão, todos nós precisamos viver. Você não precisa se desculpar por nada, então não tente. Eu só quero que esteja feliz, seja lá com quem for. Disse isso e finalmente saí da cozinha.

Disse para o pessoal que a cerveja estava acabando e que estava saindo para comprar mais. Não voltei.
Hoje o tempo ainda está bom, quente, mas nem tanto. O som do mar me faz feliz. Decidi vir à praia, pois percebi que não havia nada bom para mim naquela cidade. Avisei alguns amigos que estaria de volta em dois dias, este ainda é o primeiro. Desde o dia do churrasco venho pensando em certas coisas, conclui que essas coisas acontecem, algumas estórias se repetem e outras nunca começam. Hoje eu aceito que há certa dose de egoísmo em querer que alguém te espere pelo tempo que for, os tempos mudam e as pessoas também. As vezes acho que tudo isso é  apenas a vida sendo ela mesma.
Enquanto estava fora, pessoas me diziam que eu deveria começar uma vida nova, fazer novos amigos, pensar no futuro. Eu só queria que alguém tivesse me dito para pensar em alguém, isso me ajudaria muito mais do que os outros conselhos. As vezes você não quer mudar, as vezes tudo tem que permanecer como está, calmo e certo. Mas nem sempre as coisas são assim. De repente tudo muda e só nos resta tentar lidar com as mudanças. Hoje eu estou calmo e um pouco feliz por estar vendo o mar...

De repente alguém chama meu nome, viro a cabeça e vejo ELA, hoje não está de shorts jeans nem com o cabelo no ombro, mas ao menos está sozinha, e linda, como sempre. Me levanto e  começamos a andar um em direção ao outro enquanto o mar nos observa...

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